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Falta d'água prejudica prevenção da pandemia em cidade na ilha do Marajó

Publicado em 29/05/2020 Editoria: Brasil


Moradores de Breves (PA) têm poucas horas no dia de abastecimento; 57 já morreram

Moradores de Breves (PA) têm poucas horas no dia de abastecimento; 57 já morreram

A Covid-19 alterou a rotina em Breves, cidade mais populosa do arquipélago do Marajó, no Pará. A doença já matou 57 pessoas e infectou 485; e o racionamento de água prejudica os cuidados para evitar a doença. O Ministério Público Estadual chegou entrar na Justiça pela volta do "lockdown" em Breves, mas o pedido foi negado —a prefeitura é contra o "lockdown", defendendo a flexibilização da quarentena.
 
Breves, de 102,7 mil habitantes, entrou no radar de atenção nacional depois de um estudo da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) projetar a cidade como a maior em incidência da Covid-19 no país, entre 133 municípios analisados.
 
Na projeção, 24,8% da população de Breves tem ou já teve o novo coronavírus, algo em torno de 25 mil pessoas. Segundo o epidemiologista Pedro Hallal, a projeção se baseia em testagens da Ufpel, que permitem avaliar os cenários epidemiológicos, por amostragem.
 
"Nós fizemos 250 testes em Breves, dos quais 53 foram positivos. Ajustando-se para a validade do teste, a proporção estimada da população com coronavírus é de 24,8%. Pegando-se o número de moradores da cidade, e aplicando-se esse percentual, o número estimado de casos na cidade é de 25 mil", diz Hallal.
 
A falta d&39;água afeta a vida na cidade. Em algumas áreas, diariamente o abastecimento é retomado apenas por duas horas a cada turno, de manhã e à noite. É curto o tempo para ter o essencial para a cozinha, para lavar as mãos ou para tomar banho.
 
É o que vive o estudante Robert Pinheiro Lisboa, 32, morador de Breves. Ele diz ter vários conhecidos e vizinhos infectados com a doença.
 
"É tenso, mas só para quem se preocupa. Muitos nem ligam. Depois do fim do &39;lockdown&39;, as pessoas abarrotaram as ruas. Churrasco, pessoas bebendo juntas, como se nada tivesse acontecido. E aqui é interior. Todo mundo se conhece. É difícil”, conta.
 
Ao todo, o arquipélago de Marajó (com 16 cidades) já somava 1.768 casos e 133 mortes até esta quarta (27). No Pará, são 33.699 casos confirmados e 2.715 vítimas.
 
&8203;O Pará suspendeu no domingo (24) o "lockdown", medida mais rígida de isolamento, em 16 cidades, incluindo algumas do arquipélago. O Ministério Público ajuizou ação para a volta do regime em Breves, com o bloqueio a atividades não essenciais e circulação prorrogada por pelo menos mais 10 ou 15 dias.
 
Já a prefeitura defende a manutenção do comércio aberto. “Breves é uma cidade-polo. Concentra serviços de bancos para outros oito municípios e fica entre três capitais com altos índices de Covid-19: Belém, Manaus e Macapá. Cerca de 2.000 pessoas diariamente vêm de outras cidades buscar serviços”, diz o prefeito Toninho Barbosa. Para ele, o fato de Breves ter mais recursos hospitalares e receber pessoas doentes aumenta os índices da cidade. “Medidas preventivas são executadas desde março, quando o Pará registrou seu primeiro caso.”
 
O risco em Breves expõe o arquipélago, para Jaime da Silva Barbosa, presidente da Amam (Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó) e também prefeito de Cachoeira do Arari. "Por isso somos os mais atingidos, os mais vulneráveis. Dos 16 municípios, só Breves pode atender suspeitas da Covid-19, ou pacientes precisam ir a Belém."
 
Nesta quarta, o governador Helder Barbalho recebeu em Belém o general Eduardo Pazuello, responsável interino pelo Ministério da Saúde. O governo do Pará informou que abrirá outro hospital de campanha, na cidade de Soure, com 60 leitos, dez de UTI. Antes, instalou o hospital de campanha de Breves para atender a região (com 50 leitos clínicos e dez de UTI). A taxa de ocupação do hospital é de 60%.
 
O Pará diz que tem ainda nove leitos de UTI no Hospital Regional do Marajó, também em Breves. Afirma que pacientes da região são atendidos ainda por hospitais de Belém e que transfere doentes quando isso é solicitado. O governo também diz que comprou medicamentos e os distribuiu às prefeituras.


› FONTE: Folha