O novo coronavírus é muito mais parecido com o HIV do que se imaginava
Publicado em 02/10/2020
Editoria: Saúde
Cientistas brasileiros encontraram evidências que apontam semelhanças nas formas como o HIV e o novo coronavírus agem no corpo. A pesquisa sugere inclusive que alguns pacientes com Covid-19 podem desenvolver um quadro de imunodeficiência aguda devido aos danos causados no sistema de defesa.
O corpo humano tem um tipo de célula chamada Linfócito T. Ela coordena a resposta adaptativa diante da invasão de algum micro-organismo, liberando substâncias que contribuem tanto no processo de produção de anticorpos como pelo reconhecimento e eliminação das células já infectadas.
A questão é que o novo coronavírus é capaz não apenas de matar os Linfócitos T, mas também de prejudicar a função daqueles que sobraram. Isso faz com que eles se repliquem menos e, consequentemente, seja reduzida a resposta contra qualquer tipo de agente que possa desencadear outros tipos de doença.
E tudo isso acontece porque o causador da Covid-19 entra e se reproduz dentro desses linfócitos. O grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicam) com apoio da Fundação Paulista de Amparo à Pesquisa (Fapesp) relatou os resultados da descoberta em um artigo que ainda não foi revisado pelos pares, isso significa que ainda não é recomendado utilizá-lo para balizar tratamento contra a doença.
Todo esse efeito negativo dentro do corpo é muito parecido com o causado pelo HIV, a diferença é que este altera o sistema permanentemente, enquanto o coronavírus, de acordo com a pesquisa, impactaria de forma aguda.
Para chegar a esta conclusão, os cientistas coletaram células de doadores saudáveis e as encubaram com o novo coronavírus. A partir de então monitoraram o material por vinte e quatro horas ininterruptas para checar e avaliar quais os efeitos causados pelo agenda causador da doença pandêmica.
As análises identificaram contaminação de aproximadamente 40% dos Linfócitos T. Desse montante, 10% morreu ao final do estudo. Além disso, a carga viral dobrou nesse período, apontando que o vírus estava em forte processo de replicação.
SEGUNDA FASE
Os cientistas então repetiram os mesmos procedimentos com Linfócitos T isolados de pacientes positivos para Covid. Nas pessoas com agravo moderado da doença havia poucas dessas células de defesa contaminadas e elas estavam produzindo uma substância essencial para a resposta do organismo contra o problema.
Já nos casos graves, havia muito mais linfócitos contaminados com o novo coronavírus e as células estavam produzindo uma substância anti-inflamatória. É como se os “soldados” que combatem os invasores estivessem gritando para o corpo a necessidade de frear o avanço do vírus.
Conforme os pesquisadores, esses resultados encaixam com descobertas anteriores, ajudando a explicar, por exemplo, por que pacientes com quadros severos apresentam redução na quantidade geral de linfócitos, exaustão das células e produção comprometida de anticorpos.
Por fim, restava aos cientistas tentarem entender como o novo coronavírus conseguia invadir esse tipo de célula de defesa, já que ela é revestida com uma espécie de proteína refratária contra vírus e bactérias. Basicamente, a resposta está nas espículas do novo coronavírus, que são os tentáculos que ele tem (como é possível observar nas imagens computadorizadas). Ela contém uma substância capaz de derrubar essa proteção.
Quanto mais detalhados os efeitos do novo coronavírus no organismo, mais possibilidades de ações que combatam a infecção podem ser desenvolvidos.
› FONTE: Correio do Estado - Ricardo Campos Jr