Alexandre Lopes é exonerado da presidência do Inep
Publicado em 26/02/2021
Editoria: Educação
Novo dirigente do órgão responsável por organizar Enem ainda não foi divulgado pelo governo Bolsonaro
O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Alexandre Ribeiro Pereira Lopes, foi exonerado do cargo.
A exoneração foi publicada na madrugada desta sexta-feira (26) no Diário Oficial da União, com a assinatura do ministro da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.
O substituto não foi nomeado na edição do Diário Oficial.
Também foi exonerado o chefe de gabinete da presidência do Inep, Marcelo Silva Pontes. A exoneração dele foi assinada pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro.
Sob o guarda-chuva do MEC (Ministério da Educação), o Inep possui, entre suas atribuições, a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), cuja nota é usada na seleção de vagas nas universidades e nos institutos federais.
Antes de assumir o instituto, em maio de 2019, Lopes ocupava a função de diretor legislativo na secretaria-executiva da Casa Civil.
Ele foi o terceiro presidente do instituto no governo Bolsonaro (sem partido). Nos cinco primeiros meses da atual gestão federal, duas outras trocas foram realizadas.
Marcus Vinícius Rodrigues e Elmer Vicenzi ficaram por um curto período à frente do instituto. Já Maria Inês Fini, que ocupava o cargo desde o governo Temer, foi exonerada no começo de janeiro de 2019.
Lopes já havia trabalhado com o ex-ministro da Educação da gestão Bolsonaro Abraham Weintraub que, antes de se tornar titular do Mec, era o número dois da então pasta comandada por Onyx Lorenzoni (Casa Civil).
Segundo o currículo de Lopes, ele é formado em engenharia química pela UFRJ e em direito pela UnB. É servidor público de carreira como analista de comércio exterior desde 1999.
VIÉS IDEOLÓGICO
Em artigo publicado nesta Folha, Alexandre Lopes defendeu a manutenção do Enem durante a pandemia de Covid-19. A realização do exame, no entanto, gerou um recorde de abstenção de inscritos, que temeram pela falta de medidas sanitárias efetivas durante a aplicação das provas.
Em entrevista à Folha após assumir o cargo, Lopes também disse que quem fizesse redação de esquerda no Enem não seria prejudicado.
Mas especialistas e servidores que elaboram o Enem temem, desde o início do governo Bolsonaro, por interferências na prova. O presidente em diversas ocasiões criticou o exame e chegou a dizer que, sob sua gestão, questões sobre alguns temas seriam barradas.
Bolsonaro já criticou em edições anteriores perguntas que abordavam racismo e homofobia. Neste ano, ele reclamou de uma questão que comparava os salários dos jogadores Marta e Neymar.
"Você vê as provas do Enem. O banco de questões do Enem não é do meu governo ainda, é de governos anteriores. Tem questões ali ridículas ainda, ridículas", disse Bolsonaro na ocasião.
Em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, o Inep criou uma comissão para censura ideológica de temas no banco de itens, que agrupa as questões usadas nos exames federais. O Inep nunca divulgou quais temas e questões foram barrados.
A comissão vetou 66 perguntas que foram avaliadas como tendo "abordagens controversas" e "teor ofensivo”. Os itens condenados estão, principalmente, nas áreas de ciências humanas e linguagens, 29 e 28 itens respectivamente. Outros 5 eram de ciências da natureza e 4, de matemática.
A criação da comissão veio a pedido de Bolsonaro, que antes acumula críticas, de teor ideológico, sobre questões do Enem. As duas edições do exame a cargo deste governo deixaram de contar, de forma inédita, com perguntas sobre a ditadura militar no Brasil (1964-1985), período marcado por restrições civis e tortura, mas elogiado e defendido por Bolsonaro e apoiadores.
Bolsonaro tem um discurso de minimização do racismo, problema que ele já disse que não existe no país.
› FONTE: Folha