Psiquiatra Marco Abud explica alteração do sono na quarentena e dá dicas para dormir melhor
Publicado em 10/03/2021
Editoria: Saúde
A pandemia da Covid-19, anunciada há um ano pela OMS (Organização Mundial da Saúde) tem bagunçado com o sono da população.
O isolamento social, as medidas restritivas da quarentena –que foram reforçadas recentemente por vários estados no Brasil devido ao aumento de infecções e de mortes por coronavírus–, o trabalho em home office e o estresse causado pelo medo da contaminação são alguns fatores que levam à piora da qualidade de sono, segundo o psiquiatra Marco Abud.
“A mudança de rotina causou estresse. Essa confusão de espaço pessoal com profissional, aumento nas tarefas domésticas, cuidados com os filhos, o isolamento social que nos colocou longe de familiares e amigos e, claro, o medo da doença ou de algum familiar contraí-la, e até mesmo as inseguranças com a economia do país”, observa o psiquiatra.
“Tudo isso virou um caldeirão de emoções e o sono é um dos que mais sofrem com esses momentos, pois é o período que precisamos relaxar, mas também aquele em que tudo vem à tona: o dia a dia, as angústias, a sensação de que é preciso encontrar soluções imediatas para os problemas da nação a todo custo”, explica.
Como saber se tenho insônia?
Abud conta que os chamados insones são aqueles que apresentam dificuldades para adormecer ou que não conseguem manter a linearidade de sono.
“A insônia pode ser identificada por características como demora para pegar no sono depois de deitado após um período superior a 30 minutos; despertar no meio da noite e não conseguir voltar a dormir; passar a acordar muito mais cedo do que o habitual e, mesmo com horas livres para continuar dormindo e ainda sentindo cansaço, não ser capaz de pegar no sono novamente”, afirma.
Como superar a insônia
O médico explica que para superar o problema é preciso identificar as causas da insônia.
A insônia pode ser classificada como transitória (aguda) ou crônica. A transitória surge por fatores ligados ao estresse ou abalo diante de uma determinada situação –como o isolamento social e a quebra de rotina provocados pela pandemia– e costuma durar por um curto período de tempo, até que as adversidades que prejudicam o sono sejam resolvidas ou contornadas.
Contudo, em alguns casos, a condição pode avançar para o que é classificado como insônia crônica. Esse é um distúrbio persistente que envolve comportamentos e hábitos que são acumulados com o passar do tempo, piorando cada vez mais o quadro.
“De forma bem simplificada, isso acontece porque após um certo período o nosso cérebro aprende a aceitar esse novo padrão. É o famoso efeito bola de neve: inicialmente acontece algo extraordinário, que parece fugir ao nosso controle e começa a afetar nossa capacidade de relaxar corpo e mente quando é o momento de dormir. Mesmo quando a situação original já não é mais tão latente, a mudança no comportamento do sono segue presente. Aos poucos outros anseios e preocupações começam a ser somados, criando um ‘monstro’ interior que parece destruir a nossa capacidade de dormir bem e acaba por tornar o sono algo que beira o intangível”, diz Abud.
Em seu canal no YouTube, chamado Saúde da Mente, o psiquiatra publicou a série de vídeos “Viva livre da insônia” para ajudar a conscientizar a população sobre a importância de dormir bem.
Abud criou também um treinamento digital gratuito, a Maratona do Sono, em que usa técnicas de terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) para ensinar ações de autocuidado a partir do controle de estímulos externos, higiene do sono e técnicas de relaxamento.
“A TCC-I é indicada como primeira alternativa no tratamento da insônia, tendo como principal missão ajudar as pessoas insones a entenderem os gatilhos que comprometem o sono, compreendendo melhor as suas causas primárias e os desdobramentos disso. A terapia dá a essas pessoas os subsídios, com técnicas cognitivas e comportamentais, para a retomada de um sono mais tranquilo”, afirma.
O psiquiatra explica que o sono é muito importante para o equilíbrio físico e emocional. “Uma noite mal dormida é, provavelmente, a principal responsável pela falta de concentração e atenção que uma pessoa pode ter. Ao longo do tempo, isso vai nos afetando de uma forma que pode levar a doenças como obesidade, diabetes e hipertensão, e comprometer ainda mais nossa saúde mental, levando inclusive à depressão”, ressalta.
Dicas para dormir melhor
Evite usar aparelhos eletrônicos, como celular, computador e até mesmo assistir à televisão
Deite-se apenas quando estiver com sono
Evite café, chá preto, refrigerantes ou medicamentos que contenham cafeína por pelo menos quatro horas antes de dormir
Não consuma bebidas alcoólicas no mínimo seis horas antes de dormir
Não faça refeições pesadas antes de dormir
Cuidado com as sonecas durante o dia
Faça exercícios físicos no máximo de quatro a seis horas antes de dormir
Procure expor-se à luz solar todos os dias, pela manhã ou no final da tarde
› FONTE: G1