'Começou muito mal', diz Doria sobre novo ministro da Saúde
Publicado em 17/03/2021
Editoria: Brasil
O governador de São Paulo, João Doria, criticou nesta quarta-feira (17) o alinhamento do novo ministro da Saúde (PSDB), o cardiologista Marcelo Queiroga, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"Começou muito mal. Um ministro da Saúde que como cardiologista assume o Ministério da Saúde e diz que quem manda é o presidente da República, que não é médico, já é um mau início, um mau presságio. É mais alguém que prefere fazer vassalagem ao presidente, que é notoriamente um negacionista, em vez de fazer aquilo que ele aprendeu na medicina", disse Doria.
Para o governador, os recordes de mortes causadas pela Covid-19 que o país vem atingindo nas últimas semanas se devem a uma má gestão da saúde durante a pandemia. "Isso se deve à falta de coordenação nacional, falta de uma política de saúde, falta de orientação correta à população sobre uso de máscaras, distanciamento e isolamento daqueles que representam os grupos de risco", disse.
O governador fez um apelo por mais vacinas contra o coronavírus para o país. "Eu espero que o novo Ministro da Saúde compreenda e priorize isso, e ofereça, com segurança, a entrega de mais vacinas para a imunização de mais brasileiros", afirmou.
O governador fez as declarações ao acompanhar a liberação de um lote de 2 milhões de doses da Coronavac. As imunizações serão entregues ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde para serem distribuídas proporcionalmente entre os estados. Somente o estado de São Paulo, o mais populoso, fica com cerca de 22% do total de vacinas.
Desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, a Coronavac é processada e envasada pelo Instituto Butantan através de um acordo entre o governo de São Paulo com a empresa.
Com a entrega das vacinas nesta quarta-feira, o total de unidades da Coronavac repassadas pelo governo de São Paulo ao Ministério da Saúde chega a 22,6 milhões. Os envios começaram em 17 de janeiro.
Segundo o governo de São Paulo, até o fim de abril o Instituto Butantan deve entregar 46 milhões de doses da vacina. Em agosto, o total deve chegar aos 100 milhões contratados pela pasta.
Durante a entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (17), o governador disse que diante dos números de casos de Covid-19 e mortes causadas pelo coronavírus Sars-CoV-2 no estado, novas restrições certamente terão de ser adotadas.
De acordo com projeções de um grupo de técnicos do governo de São Paulo, todos os leitos de UTI no estado podem estar ocupados até a quinta-feira (18).
"São Paulo, com a orientação do Centro de Contingência da Covid-19, adotará novas medidas. Não tomamos decisões políticas ou individualizadas, estamos amparados na ciência. O quadro é gravíssimo em São Paulo e no Brasil, cada estado está heroicamente fazendo o que pode para preservar vidas", afirmou Doria.
Segundo o governador, se o Centro de Contingência decidir por adotar novas medidas, elas serão anunciadas em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira.
Atualmente, o estado todo está na fase emergencial do Plano SP, que teve início na segunda-feira (15) e deve ir até o dia 30 de março. Mais dura que a etapa vermelha, a emergencial impõe um toque de recolher das 20h às 5h, entre outras restrições.
De acordo com monitoramento do governo, a fase não foi suficiente para aumentar os índices de isolamento no estado. Na segunda-feira (15), primeiro dia da nova etapa, o isolamento médio no estado ficou em 42% --mesmo nível da segunda-feira anterior, quando todo o estado estava na fase vermelha, pouco menos restritiva que a emergencial.
O isolamento é calculado pelo governo com dados de telefones celulares das operadoras de telefonia Vivo, Claro, Oi e Tim. O cálculo leva em conta o deslocamento do telefone durante o dia em relação ao período onde o aparelho esteve durante a madrugada. Se o deslocamento for maior do que 200 metros, considera-se que o usuário saiu de casa.
Em entrevista coletiva na segunda (15), Doria afirmou que não descarta endurecer ainda mais as restrições no estado para conter o avanço da Covid-19 caso a atual fase emergencial não dê resultados. Segundo Doria, a fase mais aguda de restrições seria um lockdown (confinamento).
O governador não especificou como seria o confinamento em São Paulo e disse que as decisões são tomadas pelo Centro de Contingência do Coronavírus, formado por mais de 20 médicos e cientistas.
"Não hesitaremos em adotar todas as medidas que forem necessárias para proteger a população de São Paulo. A população precisa seguir as orientações dos médicos para se protegerem, ficarem em casa e respeitarem esse período da fase emergencial para que não tenhamos que adotar restrições mais duras se tivermos recrudescimento dos índices de infecção no estado", afirmou o governador.
Adotadas em diversas regiões do mundo, as quarentenas rígidas impedem o contato social e, como consequência, derrubam as taxas de transmissão dos vírus respiratórios. Ações do tipo são adotadas há mais de um século para impedir avanço de doenças infecciosas.
Inúmeros exemplos atestam a eficácia das quarentenas mais rígidas —neste mês, a cidade de Araraquara (a 273 km de São Paulo) viu os novos casos de Covid-19 caírem para quase um terço do total registrado antes do período de restrição mais rígido na cidade após um confinamento decretado no fim de fevereiro.
› FONTE: Folha