Vacina chegou para Ramona no dia em que sobrinha grávida foi sepultada com bebê
Publicado em 31/03/2021
Editoria: Cidade
Na fila da vacinação, são muitas histórias de pessoas que perderam parentes e agora ganham chance contra covid
O momento da vacinação deveria ser só felicidade, mas não tem como. Quem chega à fila da imunização sabe que é privilegiado e, em alguns casos, sentiu forte os efeitos da covid-19, mesmo sem nunca ter sido contaminado.
Para Ramona dos Santos Ferreira, a hora da vacina chegou junto com péssimas notícias. Hoje, a sobrinha-neta que estava grávida é sepultada em Dourados, junto com o bebê. Vítima da covid, ela foi intubada e, aos 6 meses de gestação, morreu. "Os médicos tentaram, mas também não conseguiram salvar o bebê", lembra.
Aos 65 anos, a aposentada saiu hoje pela manhã do Bairro Pioneiros e foi até o posto de vacinação do Guanandizão levando junto a dor pelo drama familiar. "Como minha sobrinha e o filho dela, são tantas pessoas que não conseguiram sobreviver, que não tiveram tempo para a vacina...", lamentou.
Na história da pecuarista Olídia Maria Lima da Silva, também de 65 anos, a doença levou a tia no ano passado, morta em 16 de julho pelo coronavírus. "Ela ficou internada e não resistiu. A esposa do meu primo pegou a doença, ficou internada e está bem", conta.
Nesta quarta-feira, a ansiedade a fez acordar por volta das 4h. Moradora da Via Carlota, ela esperou a manhã avançar para seguir até a tão esperada imunização, para não enfrentar fila, pensando em quem foi embora, mas também em quem tem muita vida pela frente.
“Depois de tudo que passamos e das perdas que tivemos, acredito que a vida não voltará ao normal. mas a vacina é a esperança que o mundo se torne melhor, com pessoas mais humanas e que meus netos, de 3 e 1 aninho, tenham um mundo melhor quando crescerem", diz.
Na mesma leva de vacinados, outro de 65 anos que nesta quarta recomeça a retomar a vida graças à vacinação é José Dino Pereira, 65 anos. Aposentado, conseguiu escapar do coronavírus até agora. “Graças a Deus”, comemora.
Mas José também não consegue esquecer de tantos que já partiram. "É muito triste vê tenta gente morrendo. Tantas famílias que perderam quase todo mundo e o povo é muito teimoso. Vê todos os dias reportagem para não aglomerar e aglomera".
Ele não via a hora de chegar a vez na fila. Se cadastrei tem duas semanas, com ajuda da filha do vizinho. Agora é esperar a 2ª dose para ficar mais tranquilo. "Eu e minha esposa criamos nossos dois netinhos de 3 e 4 anos. Temos de esta com saúde pra criar eles. Ela tem 62 anos ainda não chegou a vez dela, mas quando chegar ela vai tomar", avisa.
› FONTE: CG News