Policiais recebiam 'bônus' de locadoras para devolver carros roubados na fronteira de MS com Paraguai
Publicado em 27/04/2022
Editoria: Polícia
Os policiais alvos da operação do Gaeco, na cidade de Ponta Porã, na segunda-feira (25) tinham um esquema com locadoras de carros para a restituição de veículos que eram recuperados. Em dois meses, os policiais chegaram a receber mais de R$ 47 mil, no que eles chamavam de bônus, ou seja, propina, para devolver os veículos, segundo as investigações.
O investigador aposentado Valdinei Peromale, que teve sua prisão preventiva decretada, exercia o papel de controle de bens apreendidos na 2º Delegacia de Polícia Civil, que tinha como titular, o delegado Patrick Linares. O delegado foi afastado do cargo nessa terça-feira (26), com imposição de cautelares após o indeferimento do seu pedido de prisão.
Valdinei havia armado um esquema junto com o escrivão Jonatas Pontes, que também era do controle de apreensão na mesma delegacia. O investigador aposentado chegou a entrar e contato com um procurador de locadoras de automóveis para dizer, que as restituições de carros eram feitas a partir de recebimento de ‘bônus’ a ser ofertado aos policiais.
Em um primeiro momento, o procurador das locadoras afirmou que não era costume fazer este tipo de negociata, mas depois acabou aceitando fazer o pagamento aos policiais que ajudassem nas restituições de veículos das empresas.
Em dois meses, de 20 de junho de 2018 a 27 de agosto de 2018, os policiais receberam o valor de R$ 47.665, entre os meses de julho de 2017 a agosto de 2018, os investigados também receberam R$ 17.650 de uma empresa de assessoria, nas restituições de veículos recuperados.
Nas interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) foi percebido que os policiais usavam de códigos para tratar sobre os ‘bônus’ recebidos pelas empresas. Logo após, os recebimentos Valdinei sempre no dia posterior fazia a distribuição do dinheiro para os participantes do esquema, que também incluía Adriana Jarcem da Silva, que trabalhava na 1º Delegacia de Polícia Civil.
Um dos alvos da operação o delegado Patrick Linares, teve seu pedido de prisão preventiva indeferida. O delegado que tomaria posse nesta quarta-feira (27), como juiz substituto no Tribunal de Justiça, após passar no concurso em 2021, não está na lista. O pedido, porém, foi indeferido e convertido em medidas cautelares, que consistem em "afastamento do exercício da função de Delegado de Polícia enquanto estiver correndo a presente investigação e/ou a ação penal (tanto na função direta como Delegado, como em qualquer outra atividade administrativa)" e "impedimento de acessar os prédios de qualquer uma das Delegacias de Polícia existentes no município de Ponta Porã/MS".
As restrições também impõem "proibição de manter qualquer tipo de contato direto com as pessoas que estão sendo investigadas no presente procedimento, com exceção de sua esposa (o que não impede que o seja feito através de advogado dentro do exercício da função em sua defesa)", "entrega da arma funcional ao superior hierárquico por ocasião do cumprimento dos mandados de busca e apreensão – eis que afastado de suas funções" e "proibição de portar arma de espécie alguma (mesmo que particular)".
O descumprimento das medidas cautelares, conforme a peça, pode ensejar a decretação da prisão preventiva de Linares.
Segundo o relatório do Gaeco, em uma das conversas entre dois policiais presos na operação, um deles fala que Patrick Linares havia dito que não queria mais saber de se envolver em bronca, já que havia sido aprovado em um novo concurso público.
Ainda durante as investigações, foram identificados pelo Gaeco vários depósitos em espécie, que foram feitos na conta do delegado e de sua esposa: entre os anos de 2017 e 2019, foram feitos 18 depósitos, totalizando R$ 17.060, na conta bancária do delegado.
Já na conta da esposa do delegado, foram descobertos 190 depósitos que totalizaram o valor de R$ 214.597, com algum tipo de identificação — outros 86 créditos no valor total de R$ 89.980 não tinham identificação ou estavam precárias.
Foram esses depósitos que chamaram atenção durante as investigações. Além disso, a esposa do delegado, que também é funcionária pública, não teria declarado outra atividade remunerada perante a Receita Federal, conforme foi mencionado pelo Ministério Público.
Ainda segundo o relatório, foram identificados indícios de que o recebimento das quantias pelos investigados sinalizavam o recebimento de valores de forma irregular, já que — como agentes públicos — a única fonte de renda conhecida viria do Estado, não se justificando o depósito de tantos valores sem origem aparente. O Gaeco ainda aponta que a conta bancária da esposa do delegado poderia estar sendo usada como ‘laranja’ no recebimento de propinas.
› FONTE: Midiamax