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Cansada de golpe, mulherada se une para não ser passada para trás

Publicado em 14/09/2022 Editoria: Cidade


 
Associação de Mulheres Terenas Solidárias foi criada por indígenas da Aldeia Bananal
 
 
Há dois anos, mulheres terena decidiram se unir para mostrar que, em conjunto, conseguem ajudar a si mesmas e outras indígenas de sua região a não serem passadas para trás. Pensando nisso, depois de serem cobradas a mais do que o devido por advogados e perderem direitos por falta de conhecimento, criaram a Associação de Mulheres Terenas Solidárias.
 
 
Morando na Aldeia Bananal, na região de Aquidauana, as mulheres se uniram há pouco mais de dois anos para auxiliar famílias indígenas a conseguirem desde documentação até auxílios oferecidos pelo INSS. Desde então, já ampliaram os serviços voluntários para outras aldeias da Terra Indígena Taunay e Ipegue.
 
À frente da associação, Danieli Luiz, de 38 anos, conta que depois de sentir as dificuldades na própria pele e ver que sua comunidade continuava com os problemas, resolveu tentar mudar o cenário. “Eu morei em Campo Grande por 17 anos e aprendi muito, mas também sofri com preconceito, desemprego e falta de conhecimento”, ela conta.
 
Formada em Pedagogia pela UFMS, Danieli se tornou técnica em análises clínicas e hoje é acadêmica de História morando na Bananal. E, usando dos conhecimentos que adquiriu durante a vida, convidou outras mulheres da aldeia para ajudar a difundir as informações.
 
“A associação nasceu com intenção de juntar um grupo de mulheres que tivessem a mesma ideia de luta, de ser solidária com os problemas sociais que a comunidade enfrenta. Queremos ser um canal para que os direitos da comunidade, das famílias e principalmente das mulheres cheguem até elas”, detalha Danieli.
 
Entre os principais problemas identificados, a presidente da associação conta que o acesso à Internet e lidar com documentos sempre estão à frente. Consequentemente, quando as mulheres precisam de auxílios como o de maternidade, aposentadoria ou até auxílio social, os problemas começam a aparecer.
 
“Tivemos casos em que advogados que são indicados pela cidade conseguiram cadastrar as mães e aposentadas nos sistemas do INSS, por exemplo. Mas ao invés de cobrar a porcentagem correta do serviço, eles cobram muito mais”, ela diz.
 
Vendo isso acontecer, a associação decidiu que iria se dedicar principalmente para ajudar outras indígenas sem custo algum. “Registramos algumas situações assim na nossa comunidade e estamos tentando fazer com que as mulheres e famílias não sejam mais enganadas”.
 
Até agora, 32 mulheres e suas famílias já estão cadastradas na associação, mas os serviços abrangem um número maior. Danieli conta que realizar o cadastro na plataforma do INSS e ser uma ponte entre as comunidades e a Defensoria Pública é parte da rotina diária.
 
“Muitas famílias não têm a documentação correta, que é necessária para que busquem seus direitos. Então é um problema que tentamos resolver. Hoje não temos uma sede, mas também estamos em busca disso”, explica a líder.
 
Além de ajudar com questões documentais e de benefícios, as mulheres da associação também criaram frentes para outros projetos. Reunindo voluntários, elas conseguiram reconstruir casas que foram desmanchadas com temporais e também criaram hortas.
 
Outra situação detalhada por Danieli é que até em audiências online a associação tem atuado. “Em alguns momentos, algumas senhoras que não entendem bem o português precisam de ajuda. Então conseguimos ser intérpretes delas com autorização do Fórum”.
 
Sabendo que há muito trabalho pela frente, a presidente da associação completa que as mulheres terena continuam em busca de mais parceiros e modos de conseguirem conquistar os direitos na prática. “É um trabalho muito bom de fazer e aprendemos muito com as demandas, mas sabemos que ainda há muita coisa para aprender e fazer”. 


› FONTE: Campo Grande News