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Patrimônio histórico tem cercas e até portas furtadas na Esplanada Ferroviária

Publicado em 04/05/2023 Editoria: Região


Moradores da região dizem que, além da história destruída, usuários de drogas invadem prédios e furtam casas
 
 
Imóveis abandonados pelo poder público causam insegurança em moradores da região da Feira Central, em Campo Grande. Duas casas tombadas como patrimônio histórico pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) viraram ponto de usuários de drogas, que se abrigam para furtar as residências no entorno, reclamam os moradores do Centro. 
 
Os portões e portas dos prédios que serviam aos administradores da antiga ferrovia foram arrancados. A fiação da rede elétrica e o registro de água também foram furtados do local.
 
Na última semana, nos dias que antecederam o feriado de Tiradentes, celebrado em 21 de abril, residências, Associação de Aposentados Ferroviários e o depósito do curso de artesão da Plataforma Cultural de Campo Grande foram invadidos pelos ladrões.
 
A situação é recorrente na região. Os moradores da área histórica da Capital acreditam que os imóveis desocupados facilitam a ação de pessoas, que em sua maioria estão em situação de rua e utilizam os objetos furtados como moeda de troca para a compra de drogas.
 
Os imóveis localizados na Rua Doutor Temístocles são de propriedade da União. A presidente da Associação de Moradores e responsável pelo acervo técnico do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Mato Grosso do Sul, Maria Madalena Dib Mereb, relata que todos os dias os servidores da Plataforma Cultural e guardas patrimoniais retiram os usuários de drogas dessas residências.
 
Mas sem uma política de prevenção ou recuperação dessas pessoas, nada muda. "Os trabalhadores tentam manter eles longe daqui, mas isso já virou um corredor de usuários, que vêm lá da antiga rodoviária, passam pela Orla Morena e param aqui", pontuou a presidente da associação.
 
Segundo ela, uma das residência que hoje encontra-se abandonada foi morada de uma senhora durante 25 anos, até que em setembro do ano passado o Iphan pediu para que ela se retirasse. 
 
"Isso aqui deveria estar preservado, mas não está. Na casa amarela, seria inaugurado um posto da Guarda Municipal, mas isso nunca aconteceu", comenta Maria.
 
No portão da casa citada por ela, há apenas um cadeado para fechar o local, que é constantemente invadido por usuários que pulam os muros que são baixos. Até uma das portas do imóvel foi levada, assim como outras partes da estrutura da residência. "Esse aqui era um bairro tranquilo. Hoje, todo mundo tem que estar em alerta e ter câmera de segurança", relatou a moradora.
 
Em frente ao imóvel abandonado, está a Afapedi (Associação dos Ferroviários, Aposentados, Pensionistas, Demitidos e Idosos), na Avenida Calógeras. O diretor da associação, Nelson Araujo, aponta que os furtos aumentaram após os imóveis terem sido abandonados.
 
Ele relata que, inclusive, a própria sede da Afapedi foi furtada na quarta-feira (19) e que itens de cozinha foram levados, como vasilhas, cafeteira e botijão de gás. Segundo Nelson, os mesmos ladrões que invadiram a associação são os que voltaram na quinta-feira (20) para furtar a Plataforma Cultural.
 
Conforme servidores da Plataforma Cultural, que não quiseram se identificar por medo de retalhações, na quinta-feira, duas portas foram arrombadas e ladrões levaram vasilhas, instrumentos de artesanato, rodos de limpeza e uma serra elétrica tico-tico.
 
Além do furto, os invasores evacuaram em um balde de limpeza e abandonaram ele cheio na cozinha da Plataforma. Segundo os servidores, o prejuízo é estimado em aproximadamente mil reais, sem contar com as portas que não possuem previsão de serem arrumadas. Foram colocados paletes no lugar das portas para tentar conter as invasões.
 
Além do prejuízo ao patrimônio público, os servidores dizem que sentem medo de trabalhar e serem atacados pelos usuários, já que aos finais de semana a segurança é reduzida.
 
"No sábado, ficamos praticamente sozinhos aqui. Dá muito medo", pontuou um dos trabalhadores. Segundo ele, quando um turista aparece durante o final de semana querendo saber da Maria Fumaça, por exemplo, ele orienta ir visitar em um grupo com mais de três pessoas para evitar assaltos, que são frequentes.
 
Outra preocupação tanto dos servidores da Plataforma como da presidente da Associação de Moradores é com os jovens que frequentam a região durante a noite. Para a reportagem foi relatado o medo constante de que um crime ocorra dentro dos imóveis que estão abandonados e sem iluminação.
 
"Não sei como não assusta os jovens essa casa sem portão. Esses imóveis podem ser o ponto de uma próxima tragédia na Capital. Qualquer um desses usuários podem puxar um dos jovens para dentro e ninguém vai ver", pontuou Maria.
 
Segundo ela, a área histórica só é lembrada pelo município durante eventos culturais da cidade, como Carnaval ou Campão Cultural. "Despejam aqui cerca de 70 mil pessoas e depois ficamos abandonados", lamenta a presidente da Associação de Moradores.
 
Para tentar coibir os furtos, moradores instalaram concertinas, grades nas portas e adotaram placas comunicando que área é vigiada constantemente pelos "vizinhos solidários".
 
Em uma casa na região, desocupada, foi instalado metal para proteger a residência, e o proprietário contratou um cuidador de cães que visita o imóvel todos os dias para alimentá-los. 
 
O Campo Grande News entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande, que declarou em nota que o município não é responsável pelos imóveis da região, que são tombados pelo Iphan e de propriedade da União.
 
A nota ainda informa que a Sesau irá mandar uma equipe da Vigilância Ambiental para verificar a situação dos imóveis. O Iphan também foi procurado, mas não respondeu os questionamentos da reportagem até a publicação da matéria. 
 


› FONTE: Campo Grande News