Retirada de árvores partirá da beira da BR-262 até 7 metros da vegetação (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)
Retirada, que já deveria ter sido feita, é considerada emergencial
A BR-262 é uma das mais extensas rodovias federais brasileiras. Liga o Espírito Santo ao Mato Grosso do Sul em seus 2,2 mil quilômetros. O trecho final é chamado de "Rota Pantanal" por cortar o bioma, mas, também conhecido como "estrada da morte" pelo alto número de atropelamento de animais selvagens.
Essa fama ruim pode ter fim com a adoção de um plano para evitar acidentes de trânsito que resultam em mortes de animais e pessoas, e também impedir inícios de incêndios na fração que atravessa Anastácio e Corumbá, municípios sul-mato-grossenses. Ele começou a ser executado neste mês de julho, com a derrubada de árvores na beira da rodovia.
Serão milhares de espécies arrancadas ao longo de 140 quilômetros. De acordo com estudo apresentado pela empresa Via Fauna, contratada pelo Dnit (Departamento Nacional de Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), essa medida é emergencial e realmente necessária.
As árvores deveriam ter sido retiradas em 2009, desde que cercas começaram a ser construídas, conforme definido em legislação e no plano de instalação da BR-262. São 14 anos de atraso. É o que explica a superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em Mato Grosso do Sul, Joanice Lube Battilani.
"A passagem de animais é normal na região e a rodovia vira corredor ecológico. Por isso, o primeiro plano de mitigação dos impactos da construção e uso da rodovia já previa essa e outras medidas. Elas foram cumpridas parcialmente antes, e, finalmente, serão executadas no novo plano", garante a superintendente, que acompanha o que está sendo feito. A demora e o descumprimento motivaram, inclusive, aplicação de multa de R$ 9 milhões ao Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
A justificativa para o desmatamento é que as árvores acabam atrapalhando a visibilidade dos motoristas, atraindo animais e propiciando que incêndios comecem às margem BR-262 e se alastrem vegetação adentro. "É comum incêndios iniciarem nesse pedaço, quando se joga bituca de cigarro", exemplifica Joanice.
Corte - A primeira espécie arbórea a ser retirada de um dos trechos é a leucena. Considerada invasora da vegetação nativa, tem como características galhos finos e folhas que "caem" em direção ao asfalto, sombreando parte da pista. Com autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), outros tipos de árvores serão desmatados.
Retirada de árvores partirá da beira da BR-262 até 7 metros da vegetação (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)
As outras espécies serão o angico, ipê, gonçalo-alves e aroeira, por exemplo. Diferente das leucenas, elas necessitam da aprovação do órgão para corte.
Serão desmatados 7 metros de extensão, partindo da beira da pista. O Dnit e o Ibama ainda não quantificaram os metros cúbicos de madeira que serão suprimidos. É certo que todo o material será doado, afirma Joanice. Prefeituras e universidades, além de entidades beneficentes, poderão recebê-lo e reaproveitá-lo para a confecção de cercas e palanques, por exemplo.
Outras medidas - A Via Fauna, que fez o estudo, também executa parte do plano. A empresa está removendo cercas antigas e instalando novas com altura entre 1,6 metro a 2 metros, ao longo dos 140 quilômetros que conectam Anastácio a Corumbá. Elas terão telas "à prova" de animais cavadores e répteis.
Além disso, está reformando e ampliando as passagens de concreto que ficam abaixo do asfalto e permitem o atravessamento seguro de animais. Todas ficarão limpas e terão drenagem adequada.
Um dos túneis inferiores onde os animais passam na BR-262 (Foto: Reprodução/Instagram/Via Fauna)
A superintendente do Ibama, que acompanha o trabalho, afirma que os métodos utilizados não são invasivos ao meio ambiente. "São aproveitadas as áreas que já têm drenagens naturais ou onde já era feito o escoamento de águas e existem bueiros e tubulações. As passagens inferiores são abertas onde há aterro, na área mais alta", detalha.
Duas passagens superiores também serão readaptadas pela Via Fauna para a passagem de animais como os macacos, que vivem especialmente na região de morraria do Pantanal. Elas ficarão parecidas com as instaladas na BR-319, no Amazonas, pela mesma empresa (imagem abaixo).
Radares - Outra medida prevista no novo plano é instalar mais radares pela BR-262, para obrigar condutores a reduzirem a velocidade. A prioridade serão os pontos onde passam carretas carregadas de minério e de fertilizantes até a fronteira com a Bolívia.
De acordo com Joanice, atualmente, há cinco radares em funcionamento e, no mínimo, eles precisarão chegar a 12. O Dnit cuidará dessa etapa.
› FONTE: Campo Grande News