No coração do Pantanal sul-mato-grossense, entre as paisagens exuberantes do distrito de Camisão, um antigo morro se transforma em palco de encantamento. O Morro do Paxixi, em Aquidauana (MS), guarda não só nascentes e mirantes, mas também memórias de guerra, lendas indígenas e seres míticos esculpidos nas rochas.
Guiando trilhas há oito anos, o professor de História Rubens dos Santos, de 37 anos, encontrou uma forma única de unir natureza, cultura e turismo. Nascido e criado na região, ele cresceu ouvindo os causos do lugar e, hoje, conduz visitantes em passeios que misturam realidade e imaginação.
— A trilha começa em silêncio. Adentramos a mata como quem pede licença — conta Rubens, descrevendo o início do trajeto que corta a vegetação nativa e revela, aos poucos, a imponência do Paxixi.
Segundo Rubens, o nome Paxixi vem do tupi-guarani e significa “Morro que chora”, em referência às nascentes que brotam do solo. Para os povos originários, o local era considerado sagrado, um ponto de conexão entre a terra e o céu.
Entre os principais pontos da trilha, destacam-se a Caverna do Guerreiro Esquecido, o Olho do Morro e a Caverna do Coração da Montanha. Cada parada é acompanhada de uma história — real ou lendária.
Uma das mais famosas é a do Dragão dos Ventos, ou Tairandá, uma criatura feita de nuvens e pedra que, segundo a tradição oral, protege os ciclos da natureza.
— Ele não era uma fera de destruição, mas um guardião. Quando há respeito à terra, Tairandá repousa entre as pedras, vigiando em silêncio — relata Rubens.
A lenda ganha forma em uma formação rochosa que, vista de determinado ângulo, lembra a cabeça de um dragão voltada para o horizonte.
Além dos mitos, o Paxixi também guarda marcas da história real. Durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), a região foi usada como ponto estratégico e de refúgio. Com seus paredões, cavernas e visão panorâmica, o morro oferecia abrigo a moradores e fugitivos.
A Caverna do Guerreiro Esquecido seria, segundo o guia, vestígio de um acampamento improvisado por um soldado anônimo. Um pequeno fogão de pedra ainda pode ser visto no local.
Nos últimos anos, o Morro do Paxixi vem ganhando destaque como destino de ecoturismo e turismo cultural. Trilhas sinalizadas, mirantes, guias especializados e gastronomia local atraem visitantes de várias regiões do Brasil.
Apesar do crescimento, Rubens aponta que ainda há obstáculos a superar:
— Precisamos melhorar o acesso, ampliar a estrutura e preservar a identidade do lugar. O turismo precisa crescer sem apagar o valor cultural e natural do morro.
Com iniciativas como a de Rubens dos Santos, o Paxixi deixa de ser apenas um ponto geográfico e se transforma em um território vivo de memórias, onde cada pedra conta uma história e cada passo na trilha é um mergulho na ancestralidade pantaneira.
› FONTE: Campo Grande News