Mais 5 vítimas do incêndio em hospital no RJ serão enterradas hoje
Publicado em 14/09/2019
Editoria: Polícia
O sábado (14) chuvoso no Rio, o penúltimo deste inverno, marca a despedida de pelo menos cinco famílias aos entes que morreram na tragédia ocorrida na quinta-feira (12) no Hospital Badim, no Maracanã, Zona Norte do Rio. Dos 11 mortos, cinco serão enterrados em cemitérios distintos da cidade ao longo do dia.
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Um dos funerais realizados pela manhã foi o de Luzia dos Santos Melo, de 88 anos. Seu corpo foi velado e enterrado por volta das 10h no Cemitério São Francisco Xavier, no Cajú, Zona Portuária do Rio.
Luzia estava internada desde quarta-feira (4) no Hospital Badim e tinha a previsão de receber alta médica na próxima semana. Nascida no Maranhão, ela morava em Cascadura, na Zona Norte do Rio, e deixou cinco filhos vivos, de um total de seis.
"Eu entreguei a minha mãe em um hospital particular e hoje estou sepultando a minha mãe", desabafou um dos filhos da idosa, o aposentado Emanuel do Carmo Santos Melo, aposentado.
Amigos e parentes durante cortejo para o enterro do corpo de Luzia dos Santos Melo, de 88 anos, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio — Foto: Raoni Alves/G1Amigos e parentes durante cortejo para o enterro do corpo de Luzia dos Santos Melo, de 88 anos, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio — Foto: Raoni Alves/G1
Amigos e parentes durante cortejo para o enterro do corpo de Luzia dos Santos Melo, de 88 anos, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio — Foto: Raoni Alves/G1
Emanuel se diz inconformado com a morte da mãe que, segundo ele, poderia ter sido evitada.
"Eu entreguei a minha mãe viva e em boas condições de saúde. Ele estava só com uma pneumonia, que vinha sendo bem tratada. Eu não tenho nada pra falar sobre o tratamento médico. Eu falo sim da falta de brigadista de incêndio. Nunca houve. Nunca houve treinamento. Não teve nenhuma orientação pra evacuação daquele local", disse.
O aposentado afirmou, ainda, que foi impedido pelo Corpo de Bombeiros de retirar a mãe do prédio em chamas. Ele a acompanhava no CTI quando começou o incêndio.
"O Corpo de Bombeiros impediu que todos que estavam com seus entes de nos mobilizarmos para retirarmos eles de lá. Eles não deixaram a gente passar de onde eles estavam. Dizendo que nós fossemos para fora do hospital. Falaram que nós receberíamos eles lá embaixo e recebemos, às 3h15 da manhã, todos eles dentro de um saco", contou.
Emanuel reclamou ainda sofrer os efeitos da fumaça tóxica que inalou no hospital. "Eu inalei muito fumaça. Agora tenho que me tratar. Eu não tô aguentando de tanta tosse e dificuldade de respirar"
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Já no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte, foi enterrado, por volta das 10h30, o corpo de Darcy da Rocha Dias, de 88 anos. Ela estava internada tratando um enfisema pulmonar.
"A minha avó era completamente lúcida. Ela estava com efisema pulmonar, mas estava bem, com expectativa de sair do CTI. Muitos netos, filhos e bisnetos sentirão sua falta. Ela sempre ligava para todo mundo, me ligava todos os dias", lamentou o neto Felipe Feijó.
O rapaz reclamou que a família não se sentiu acolhida pelo hospital diante da tragédia e que eles só souberam da morte de Darcy através do Corpo de Bombeiros.
"A gente achou que houve uma falta de comunicação, falta de respeito mesmo por parte do hospital. Nós não nos sentimos acolhidos. Parece que eles seguraram as informações... Só soubemos pelos bombeiros, ninguém do hospital nos informou dos óbitos", disse o neto.
No Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi, também na Zona Norte, está previsto o enterro de duas das vítimas da tragédia. Lá, amigos e parentes velavam os corpos de Virgílio Claudino da Silva, de 66 anos, e Irene Freitas de Brito, de 84 anos.
Virgílio estava internado havia 70 dias no Badim após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo familiares, ele morreu de embolia pulmonar por inalar fumaça do incêndio. Ele deixou dois filhos.
Já Irene Freitas de Brito chegou ao hospital Badim no dia 29 de agosto com uma suspeita de câncer e um quadro de desidratação. Ela tinha seis filhos.
No fim da tarde está previsto, no Cemitério São Miguel, em Campo Grande, na Zona Oeste, o quinto enterro do dia, o de Maria Alice Teixeira da Costa, de 75 anos. Ela estava no terceiro andar do hospital desde segunda-feira, com dores no peito. A filha dela, Tânia, passou a madrugada de quinta para sexta à espera de notícias da mãe, que estava desaparecida. Sua morte só foi confirmada pela manhã.
&39;Foi muito rápido&39;, diz filho impedido de salvar a mãe
O primeiro dos 11 enterros das vítimas da tragédia no Badim aconteceu ainda na sexta-feira. Berta Gonçalves Barreira de Souza, de 93 anos, foi enterrada no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul.
Bertsa sofria com a doença de Parkinson e estava internada no CTI do hospital havia três dias. Quanto o incêndio aconteceu, ela era acompanhada pelo filho, Carlos Uterelo, que tentou sair do hospital junto com a mãe, mas a saída estava obstruída. Ao tentar voltar, foi impedido pelos bombeiros e a mãe ficou entregue à morte.
"Eles (bombeiros) tentaram de tudo. Foi muito rápido. Era uma fumaça altamente tóxica. Eu tentei ajudar. Até um determinado ponto a gente conseguiu levar. Quando chegamos até uma porta corta fogo a gente não conseguiu passar. Estava tomada de pessoas e macas querendo passar. Então nós tivemos que retornar porque tinham mais dois pacientes atrás da minha mãe. Nessa que eu tentei voltar com ela, os bombeiros impediram que eu fosse. Estava muita fumaça", contou o filho de Berta.
Incêndio começou no gerador
Além dos 11 mortos, havia outros 77 pacientes internados no Hospital Badim que precisaram ser transferidos para outras unidades. Vinte funcionários também foram hospitalizados.
Na sexta-feira (13), a direção do hospital informou que 103 pessoas estavam internadas na unidade no momento do incêndio. Enfermeiros, médicos, bombeiros e moradores da região ajudaram a acomodar pacientes em colchões nas calçadas da Rua São Francisco Xavier e em uma creche vizinha.
Segundo exames preliminares, a maioria das vítimas estava no CTI do hospital e morreu asfixiada com a fumaça, sem queimaduras graves. Algumas sofreram com o desligamento dos aparelhos.
A polícia já sabe que o fogo que atingiu a unidade de saúde na noite de quinta-feira (12) começou num gerador no subsolo do hospital.
A perícia da Polícia Civil será retomada neste sábado (15) após a retirada da água que está no subsolo do prédio onde fica o gerador onde teria começado o fogo. O trabalho de retirada da água começou na sexta-feira às 18h10, como informou o RJ2.
Mortos na tragédia (veja quem são):
Alayde Henrique Barbieri
Ana Almeida do Nascimento, 90 anos;
Berta Gonçalves Barreira de Souza, 93 anos
Darcy da Rocha Dias, 88 anos
Irene Freiras de Brito, 84 anos;
Ivone Cardoso; 75 anos;
José Costa de Andrade; 79 anos;
Luzia dos Santos Melo, 88 anos;
Maria Alice Teixeira da Costa, 76 anos;
Marlene Menezes Fraga, 85 anos
Virgílio Claudino da Silva, 66 anos.
Sobre o hospital
O Hospital Badim é uma unidade de saúde particular que faz parte da Rede D’Or São Luiz. O prédio que pegou fogo foi construído há 19 anos no Maracanã. Outro prédio, anexo a ele, foi inaugurado em 2018. Ao todo, o complexo hospitalar tem 15,7 mil m² de área construída, 128 leitos de internação, 32 leitos de tratamento intensivo e cinco salas de centro cirúrgico, de acordo com o site institucional.
› FONTE: G1