Delegacia da Mulher de Aquidauana age com rigor para proteger vitimas
Publicado em 07/03/2020
Editoria: Polícia
Barreiras criadas pela violência: Por que mulheres agredidas tem tanta dificuldade de se reconhecerem vítimas
O telefone toca no CRAM – Centro de Referência de Atendimento à Mulher, do outro lado da linha, uma jovem que pede ajuda para a mãe, pois não aguentava mais vê-la sofrendo, vítima do padrasto, que a “criou” como pai. Uma tortura física e psicológica que durou 20 anos!
A denúncia é repassada para a DAM – Delegacia de Atendimento à Mulher, onde a delegada titular Joilce Silveira Ramos e sua equipe dão início aos trâmites para “resgatar” a dignidade dessa mulher, vítima do “ciclo da violência doméstica”, um comportamento patológico, influenciado pela cultura, que oprime mulheres e as torna passivas de uma violência que nem sempre é física, mas constantemente perversa.
Após a denúncia, a vítima foi retirada do convívio com o agressor, e com os filhos menores encaminhada para Campo Grande em segurança, local que não será divulgado pela reportagem. Um alívio, uma libertação! Rompeu um relacionamento e está escrevendo uma nova história! Foram 20 anos de ameaças, espancamentos, dente quebrado com um soco, estupro, inclusive a vítima foi abusada grávida, chegou até a perder o bebê. Aguentou calada, por medo!
Os filhos sempre tiveram medo, viam a mãe passar pelas mais absurdas humilhações, mas nada podiam fazer, eram pequenos, mas viram tudo, tudo! Uma vez, um dos filhos tentou defender a mãe de mais uma série de espancamento, quando o próprio pai quase o matou enforcado, se não fosse pela interferência do irmão, que chegou bem na hora.
Enquanto a mãe sofria com as dores físicas, os filhos sofriam com as dores emocionais. O homem bebia demais, bebia pinga, e se achava “macho” o suficiente para praticar toda a espécie de violência contra sua esposa, mulher que ele deveria amar e respeitar.
Assim que ficou sabendo da ação policial para responsabiliza-lo pelas duas décadas de violência doméstica, o homem procurou seu filho de 18 anos, e pediu que ele fosse até a delegacia e desmentisse toda a história, que em seu depoimento ficasse a favor dele.
E nesta quarta-feira, 03, ele mesmo fez questão de leva-lo até a Primeira Delegacia de Aquidauana e não na DAM, mas a delegada da mulher, Joilce Silveira Ramos, se deslocou até a Unidade Policial para ouvi-lo e percebeu a coação do pai ao filho! Com jeitinho, a autoridade policial conversou com o jovem que acabou contando o “plano” do pai.
Ele chorou muito e contou a verdadeira história de horror passada pela família. Resumindo: o homem foi preso dentro da delegacia, por coação no curso do processo! Chorou, esperneou, disse que estava arrependido, que amava a esposa e gostaria de ter sua família. Tarde demais, esse típico discurso de homem covarde e machista, não convence mais.
A violência doméstica é um padrão de comportamento violento ou abusivo, que ocorre no contexto familiar ou afetivo. É uma situação perigosa, criminosa e que afeta de forma negativa e significativa a sociedade.
Qualquer um pode sofrer violência doméstica, mulheres, homens, idosos ou crianças, mas no Brasil, esse crime coloca em risco quase metade da população: as mulheres! E esse abuso pode acontecer de diversas formas: físico, sexual, psicológico e econômico.
E a culpa nunca será da vítima! Agredir alguém é errado, criminoso e não há motivo para que isso aconteça! Nada do que ninguém disser é motivo para violência ou abuso. Não interessa a roupa que a vítima estava usando, a forma que ela falou ou a maneira que ela resolveu viver a vida dela. Menos rótulo e mais respeito!
A delegada titular da Delegacia da Mulher de Aquidauana, Joilce Silveira Ramos, orienta a todas as mulheres que sofrem violências física e psicológica, que não se intimidem e busquem ajuda na Delegacia da Mulher em Aquidauana e reforça que, mesmo aquelas que residem na área rural do município, independente da distância a ser percorrida pela Polícia Civil, todas terão atendimento humanizado, com resposta rápida e eficiente.
A autoridade policial reforça que, a Delegacia tem toda a estrutura e capacidade, não só para ações enérgicas e rápidas contra os autores, como também atendimento psicológico e assistencial.
”Mulheres, crianças e idosos, a Delegacia da Mulher está equipada para protege-los, seja na cidade, seja na área rural, onde tiver uma vítima precisando de ajuda, eu e minha equipe vamos até ela. Agressor bom é agressor preso! Quero que elas saibam que não vamos medir esforços e nem distância pra protege-las, temos vagas disponíveis no abrigo de Campo Grande por tempo indeterminado. Eu quero que nossas mulheres sintam confiança na Polícia, só assim para perder o medo e se separar”, reforçou a autoridade policial.
Em Mato Grosso do Sul, 6 mulheres foram mortas pelos seus parceiros ou ex-companheiros, além do feminicídio, de acordo com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), até o dia 29 de fevereiro, 3.108 mulheres haviam sido vítimas de violência doméstica no Estado.
› FONTE: JNE - Giselli Figueiredo