Histeria da população faz sumir de farmácia remédio para lúpus
Publicado em 20/03/2020
Editoria: Saúde
O posicionamento oficial do CRF/MS (Conselho Regional de Farmácia) é de alerta em cima da venda desenfreada de um medicamento usado para tratar malária, lúpus, síndrome de Sjögren, entre outros. Bastou circular a informação de que a "hidroxicloroquina" estava sendo testado, nos Estados Unidos, em pacientes com coronavírus, para que o campo-grandense corresse à farmácia mais próxima para comprá-lo. Em menos de 1h, uma farmácia na região do Jardim dos Estados vendeu as oito caixas que tinha no estoque, que custa em média R$ 75,00.
E quem realmente precisa, ficou sem.
"Foi depois da veiculação de notícias fantasiosas e midiáticas, não há estudos comprovados do efeito, é tudo muito recente. Estão nas fases primárias. Todo mundo quer achar solução, e não pensa no agravamento", diz o presidente do Conselho, Flávio Shinzato.
Doula, Tatiana Marinho, de 40 anos, é uma das pessoas que está sem o remédio.
Diagnosticada com síndrome de Sjögren há 10 anos, ela faz o uso contínuo da medicação há dois e, como nunca teve problema em encontrar, deixou para comprar outra caixa quando o que tinha em casa acabou.
"Eu saí ontem de manhã para comprar, passei na farmácia e não encontrei", diz. Sem saber que da corrida atrás do produto, ela deixou para procurar em outro estabelecimento à noite. "Até para não ficar andando, entrando em tudo quanto é farmácia, deixei para ver quando eu teria que sair novamente".
A surpresa foi não só não encontrar como ser informada pelo balconista que estava em falta. "E eu perguntei, &39;mas por que? Estão tendo problema nas entregas?&39; Aí que me falaram que o pessoal está comprando para usar no tratamento do coronavírus", relata.
A saga continuou em três farmácias fisicamente e depois por telefone em outras três. Ninguém tinha o medicamento em estoque. "Me ajuda muito na parte inflamatória da doença e para conter o avanço dela. A minha síndrome pode causar inflamações e até fibrose pulmonar", apela Tatiana.
O mais surreal de tudo isso é que, ela que precisa e tem receita médica, foi quem começou a se sentir paranoica. "Eu saí sem saber de nada, já na segunda farmácia eu comecei a me sentir estranha por querer o remédio, me senti paranoica atrás dele".
O Campo Grande News entrou em contato com duas grandes redes e averiguou que não tem a medicação em nenhuma delas.
"Todo mundo quer achar uma solução, mas não pensa no agravamento.
Ele não deveria ser vendido dessa forma, só para quem faz uso regular, que já está comprovada a eficácia", adverte o presidente do CRF/MS. Mais uma vez o órgão reforça os riscos da automedicação, justamente porque ninguém sabe os efeitos que a substância pode causar em quem não precisa fazer o uso.
Em nota, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) esclarece que o medicamento registrado pela agência é usado no tratamento da artrite, lúpus eritematoso, doenças fotossensíveis e malária e, que "apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19.
Portanto, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus".
Na rede Drogasil, fomos informados de que a medicação chega amanhã, mas só será vendida uma caixa por pessoa e com receita médica comprovando o uso contínuo.
› FONTE: Campo Grande News