Bebê é o 25º caso de coronavírus em MS, após um mês da doença no País
Publicado em 26/03/2020
Editoria: Cidade
Nesta quinta-feira, 26 de março, completa um mês que o Brasil identificou seu primeiro caso de coronavírus. Já são 57 mortes e 2433 casos confirmados de Covid-19 no País. Em Mato Grosso do Sul hoje, o boletim epidemiológico registra 25 casos confirmados, um a mais que ontem, sem nenhum óbito. O novo paciente é um bebê de 3 meses, de Campo Grande, contaminado por pessoa da família e internado com quadro estável.
Aqui no Estado já são 388 notificações, 299 suspeitas descartadas e 11 excluídos. O lado bom é que nesta quinta-feira 9 pacientes tiveram alta, estão curados e 12 seguem em isolamento domiciliar. A notícia ruim é que quatro estão em UTI.
O primeiro caso foi identificado em 14 de março e até agora são 24. A medida em que a doença avança rapidamente, o poder público e a rede hospitalar correm para montar a logística possível para dar conta da demanda para a hora em que o País atingir o pico. A doença causa síndrome respiratória severa e muitos pacientes precisam com urgência de respiração artificial para sobreviver. Entre idosos, o índice de mortes é mais elevado.
Como se trata de nova enfermidade, enquanto ela se espalha pelo mundo, pesquisadores tentam entender sua dinâmica, e, assim como no Brasil, traçar projeções. Em uma das entrevistas recentes, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS), disse que concluído o primeiro mês seria possível estimar dados sobre o avanço com base no próprio cenário.
Com base na experiência de outros países, o Ministério estimou que o Brasil terá pico de casos entre 6 e 20 de abril. Essa estimativa tem como parâmetro o contexto de transmissão comunitária, quando já não se é mais possível identificar de quem o doente contraiu o coronavírus. Mato Grosso do Sul, com o número de casos estagnados há ainda estava em transmissão comunitária.
Enquanto a pandemia segue sua velocidade acelerada de transmissão e óbitos, com mais de 20 mil mortes em quatro meses no mundo, o Brasil ingressou em polêmico debate sobre a conveniência de manter ou não o isolamento social, medida que a OMS (Organização Mundial da Saúde recomenda), diante da falta de medicação ou vacina e os poucos conhecimentos que ainda se tem sobre a doença.
O presidente Jair Bolsonaro chegou a defender a adoção de um isolamento vertical, em que somente idosos e pessoas com saúde frágil ficariam isoladas, enquanto as atividades produtivas e as aulas poderiam ser retomadas. Houve embate com governadores e prefeitos e autoridades e profissionais de saúde, que seguem defendendo o confinamento das pessoas, mas a fala do presidente encontrou eco entre muitos aliados e brasileiros, retomando polarizados debates assemelhados ao período eleitoral.
Os chineses e o isolamento social – A China foi o primeiro País a relatar a ocorrência da Covid-19, no final de dezembro, tendo chamado atenção dos médicos a velocidade em que a doença respiratória progredia, debilitando a capacidade dos pulmões. O próprio médico que primeiro a observou morreu logo depois. Antes que chegasse à Europa e aos Estados Unidos, cientistas de diferentes países se debruçaram no caso da China para estudar a transmissão e a evolução da doença.
Estudos iniciais sugeriram que quando as primeiras medidas de isolamento social foram adotadas e passou-se à testagem em massa, a doença já estava espalhada, em especial por pessoas que ainda não tinham sido detectadas pelo sistema de saúde. Depois, o que se viu é que o isolamento reduziu o potencial endêmico. Mas o estrago estava feito. O coronavírus estava em mais de 400 cidades, demandando medidas extremadas.
O jornal El País divulgou estudo recente publicado pela revista Science, especializada em artigos científicos, estimando que 86% dos positivos na China não eram diagnosticados, ou seja, de cada 100 pessoas com o vírus, só 14 entravam no radar das autoridades. Á época, os casos totais eram 801, sendo que com a projeção estimada subiriam para 13.118. Depois, veio a testagem em massa e estimou-se que os casos invisíveis teriam caído a 35%.
A estimativa inicial tem sido utilizada pelas autoridades do Brasil para sugerir o número de pessoas não diagnosticadas. O Brasil anunciava ontem 2.433 casos confirmados.
Estabeleceu-se um consenso de que as pessoas assintomáticas foram fundamentais para a proliferação da doença, porque seguiam sua rotina normalmente e transmitindo o vírus a outras sem saber. “A explosão de casos de Covid-19 na China se deveu em grande medida aos indivíduos com sintomas leves ou assintomáticos que não foram detectados”, disse Jeffrey Shaman, professor de ciências da saúde ambiental na Universidade Columbia (EUA), segundo a reportagem de El País. “Dependendo de seu caráter contagioso e seu número, os casos não detectados podem expor ao vírus uma porção muito maior da população que se previa”, acrescenta Shaman. Esse coautor do estudo conclui: “Estas transmissões invisíveis continuarão representando um grande desafio para conter o surto”.
Diante da cobrança do presidente Bolsonaro de que se desfizessem medidas de isolamento, Madetta chegou a dizer ontem que nada seria adotado sem análise de boletins epidemiológicos e estudos das peculiaridades de cada região.
Já outro estudo, este feito pela Universidade do Texas, e também disponível na página da revista Science, defende que mais de 10% das pessoas são infectadas por pessoas assintomáticas. Exatamente pela dificuldade de conter uma doença com transmissão assintomática é que se adotou como padrão o isolamento, para evitar o contato entre as pessoas.
Outro estudo, divulgado ontem, também pela Science e atribuído à The Lancet Public Health, analisou a importância do confinamento adotado na China e depois repetido nos demais países por onde a doença se alastrou, revelando-se importante instrumento para evitar o avanço da doença, mas também para a organização da rede de atendimento.
Os pesquisadores analisaram vários contextos de comportamentos dos chineses, que permitiam as pessoas se aglomerarem, para traçar uma estimativa de progressão da doença. Consideraram a possibilidade de somente parar nas férias e no ano novo chinês ou com medidas extremas. Aquela teria pouco impacto, entretanto a medida mais drástica sugere queda sensível nos casos entre crianças e idosos, justamente os mais vulneráveis, e com menor queda entre adultos ativos.
Conforme as projeções feitas, levantando as medidas de isolamento em março, uma segunda onda de casos poderia ocorrer no final de agosto, enquanto que mantidas até abril, provavelmente atrasaria um segundo pico até outubro, dando um fôlego à estrutura dos serviços de saúde. Os pesquisadores afirmam a importância do isolamento, entretanto apontam que as projeções não poderiam ser replicadas para outros países, diante dos elementos da dinâmica social de cada um.
O Brasil, que está no começo das medidas de confinamento, ainda se guia pelas experiências em países que lidam com a doença há meses. Exemplo disso é a defesa enfática da adoção de testes em massa, com a previsão de aplicação de 22,9 milhões de testes rápidos, com vistas a identificar e isolar pessoas. As análises da dinâmica local da Covid-19 vão começar a aparecer a medida que os pesquisadores consigam avaliar melhor o avanço da pandemia.
› FONTE: Campo Grande News