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Depois de atuar em Aquidauana, oficial encontrou o amor na Capital

Publicado em 31/01/2022 Editoria: Cidade


Nas diligências de bicicleta, ele encontrou o amor da sua vida!
 
Eurídice Alves de Faria é um homem com números que impressionam. Aos 92 anos, um casamento que perdura a 67 primaveras e uma carreira de 48 anos como oficial de justiça, esse paranaibano emociona mais pela vivacidade e simpatia que ostenta até hoje do que pela contabilidade de seus anos.
 
Em 1929 nascia Eurídice, segundo filho de família humilde da outrora conhecida por Santana do Paranaíba. Seu pai, baiano, casou-se com uma mineira e juntos vieram tentar a vida nas terras de Mato Grosso. “O meu pai conseguiu o emprego de porteiro do auditório do Fórum. Ele fazia os pregões dos juris e auxiliava na organização dos julgamentos. Ele acabou ficando muito amigo do juiz da época, João Lacerda de Azevedo, que também era baiano”.
 
Eurídice conta que o magistrado era novo, recém-casado e procurava alguém para auxiliar sua jovem esposa e fazer companhia a ela. Ele então perguntou ao conterrâneo se sabia de alguém, ao passo que o colega de trabalho sugeriu o próprio filho.
 
“Então eu fui ajudar na casa do juiz e a família dele se afeiçoou a mim. Quando o doutor João Lacerda foi removido para Aquidauana, ele escreveu uma carta para o meu pai pedindo que eu fosse junto, garantindo que me daria todo o suporte necessário. Meus pais acreditaram que eu teria melhor sorte em uma cidade maior e me confiaram a ele”. 
 
E de fato a confiança paterna revelou-se acertada. “O doutor João Lacerda era um homem muito bom e me convidou para ser oficial de justiça ad hoc quando fiquei mais velho, mesmo eu só tendo o ensino básico”.
 
Embora ressalte constantemente que não terminou seus estudos escolares, Eurídice nunca deixou que isso fosse um limitador no desempenho de seu ofício. Determinado a honrar a oportunidade que lhe foi dada, o então jovem se empenhou a aprender todos os encargos de sua profissão. A prova e a recompensa por tamanha dedicação vieram anos depois com a divisão do estado.
 
“Quando criou o Mato Grosso do Sul, eu fui chamado pelo Desembargador Leão Neto do Carmo, 1º presidente do TJMS, para ser oficial de justiça em Campo Grande, por conta do bom trabalho que eu desenvolvia em Aquidauana”.
 
E foi na capital do novo estado, durante o cumprimento de uma diligência, que Eurídice conheceu sua esposa. “O pai dela estava divorciando e eu estava com o mandado para intimá-lo. Quando fui levar a intimação, acabei vendo-a e me interessando. Naquela época, eu saía de bicicleta para cumprir diligências, mas antes de voltar para casa, comecei a passar na frente da casa dela. A família tinha o costume de ficar tomando chimarrão na calçada e eu comecei a ficar junto deles. Acabamos namorando e casando e já fizemos 67 anos juntos”.
 
Mas não são só de felizes encontros que o serviço desse oficial de justiça foi marcado. “Certa vez, fui até uma fazenda para intimar uma família que estava em terras devolutas. Quando cheguei no local, fui recebido pelo marido armado, o cunhado armado e a esposa, que de todo mundo, era quem estava mais brava. Quando pisei na casa e me apresentei como oficial de justiça, ela disse ‘se fosse eu que vestisse calça comprida, ele nem entrava aqui’. Mas o marido disse que eu não tinha culpa, que só estava cumprindo minha função e me ouviu, mas não aceitaram receber a intimação, nem quiseram ficar com a cópia que acompanhava”.
 
Essas situações, no entanto, nunca abalaram o fiel desempenho do trabalho do servidor tão dedicado ao serviço, a ponto de só ter se aposentado quando a idade o obrigou.
 
“Quando fiz 70 anos aposentei compulsoriamente, mas se pudesse tinha continuado a trabalhar como oficial. Modéstia à parte, eu só tenho o primário, mas sempre fui muito competente. Entendi muito do que eu fazia. E gostavam do meu serviço, tanto que me requisitaram depois de aposentado para continuar atendendo dentro das sessões, como contratado, e eu trabalhei por mais 5 anos”.
 
Depois de incontáveis mandados cumpridos, Eurídice se considera um homem realizado tanto no serviço, quanto na vida. Marido apaixonado e homem de família, sempre que pode, está junto das filhas e dos netos.
 


› FONTE: TJ MS