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Pelo fortalecimento da rede de apoio, maternar em paz é o pedido no Dia das Mães

Publicado em 06/05/2022 Editoria: Política


Ser mãe é um trabalho de amor e de muito desgaste físico e emocional. Desde o parto, a mulher dá luz a um filho e às suas forças mais primitivas para aguentar a rotina de cuidados diários que virão, muitas vezes, sem que ela tenha a total dimensão do quanto sua vida irá mudar. Mas é possível passar por tudo isso com apoio, com o carinho que nasce junto ao bebê e o amadurecimento contínuo, que é, praticamente, inevitável.
 
Neste Dia das Mães, conversamos com algumas que são enfáticas ao valorizar a importância da rede de apoio, que pode ser o próprio pai da criança, um parente, uma cuidadora de confiança, uma escola, profissionais da área de saúde e até mesmo as políticas públicas de atendimento. 
 
Para “maternar” em paz - este é o desejo da maioria das mães -, é preciso que ela esteja segura de que sua criança está bem cuidada e esse é o pedido atual neste Dia das Mães. Como continuar a produzir, conviver em sociedade e ascender na carreira se é preciso se dedicar exclusivamente ao filho?  E como conscientizar a sociedade da necessidade de ampliar as redes de apoio?
 
A diarista Rosirley Matos de Souza nos ajuda a enxergar as diferentes realidades. Rose, como gosta de ser chamada, já era mãe de dois filhos quando se viu diante de um novo desafio: o nascimento de Davi. O terceiro filho recebeu diagnóstico de paralisia cerebral e ela uniu forças para procurar tratamento e políticas públicas as quais tinha direito. Para manter o trabalho e colocar comida na mesa, os filhos do primeiro casamento foram a grande rede de apoio para que a família encarasse cirurgia e toda terapêutica multiprofissional que ele necessita pela vida.
 
Davi deu os primeiros passos dentro da sala de aula, aos cinco anos, e ficou conhecido pelo vídeo que circulou até em rede nacional - veja clicando aqui. Os irmãos Flávio e Júlia, hoje já no mercado de trabalho e universidade, acreditam que é possível sentir um amor muito parecido com o maternal. "Desde que meu irmão Davi chegou e vimos a necessidade que ele tinha de atenção especial, eu assumi junto com minha mãe um pouco da maternidade. Médico, prótese, fisioterapia e tudo que ele precisa eu corro junto para proporcionar a ele. Me sinto um pouquinho mãe também", explica Júlia.  A quarta filha, Rebeca, ainda veio para completar a família, que enfrenta as dificuldades com união, amor e parceria.
 
A volta ao trabalho
 
Como Rose, o Brasil registra mais de 11 milhões de mães solo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso quer dizer que elas são as únicas responsáveis dentro do lar para cuidar dos filhos e garantir o sustento financeiro da família. Se essa realidade já era difícil antes, com a pandemia piorou, de acordo com os dados do terceiro trimestre de 2020 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, em que 8,5 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho em comparação ao mesmo período anterior. Ainda segundo o Instituto, no Brasil, 63% das casas chefiadas por mulheres estão abaixo da linha da pobreza.
 
Para quem tem a possibilidade de trabalhar, a volta ao mercado de trabalho não é fácil para nenhuma mãe, define Mariana Balsanini, servidora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), que há pouco mais de dois meses retornou da licença maternidade. “Independentemente de onde você deixar a criança, essa mãe precisa de rede de apoio, precisa sentir essa confiança, se sentir abraçada por saber que é um momento delicado, pois ela passou meses ali cuidando do bebê e vai ser uma ruptura”, considera.
 
A servidora comemora que pode se sentir segura com seu filho Davi sendo cuidado alguns dias pela sogra e em outros pela sua mãe. “Principalmente pela minha rede de apoio ser de confiança, o retorno foi melhor do que eu imaginei. Graças a Deus as tenho junto a mim, que cuidam muito bem e assim eu pude voltar em paz”, enfatizou.  
 
Maternar e a vida pública
 
As mulheres são a maioria da população brasileira, mas representam 54,4% da força de trabalho, enquanto que 73,7% são homens. O rendimento mensal também é inferior a elas, que, em contrapartida, têm maior escolarização e ainda assim ocupam menos cargos gerenciais, 37,4% enquanto 62,6% são de homens. Estes dados estão compilados na página multimídia especial Mulheres feito pela ALEMS, que também mostrou a discrepância entre gêneros na participação política. 
 
A única representante feminina na ALEMS, a deputada Mara Caseiro (PSDB), conta que não foi fácil conseguir manter o foco. “Quando começamos o trabalho para eu ser prefeita de Eldorado, eu já era vereadora, eu ficava meio assustada, mas eu queria mudar aquele município. Aí fiz o teste, chamei o grupo político e falei: &39;olha gente, estou grávida eu não vou conseguir, não vou concorrer&39;. Eu já tinha uma filha. Acabou que não teve jeito, me apoiaram e assim o Matheus nasceu em abril. A campanha começou em julho, com ele bem pequenininho e com todas as dificuldades eu consegui. Eu penso que a gente faz tudo isso pelos nossos filhos e pelos filhos dos filhos. Eu quero um mundo melhor, para os meus e para todos. E meu propósito foi esse que, com o meu trabalho, eu pudesse transformar conciliando com a maternidade”, explicou a deputada.
 
Mara Caseiro foi vereadora, prefeita e deputada estadual por três mandatos. “É claro que as ausências são difíceis. A gente tem que compensar, conversar muito e declarar isso. Há muita cobrança, não tenha dúvida, mas temos que mostrar que trabalhamos por uma causa para que tenhamos um país melhor. E quando a gente tem um propósito não há obstáculo, mas contei com muita ajuda para isso. Hoje tenho os dois filhos e três netos. Digo que não temos dia, nem hora, mas cada um fazendo sua parte conseguimos muito”, ressaltou a deputada.
 
No mesmo sentido, a procuradora do Estado Fabíola Marquetti contou que para uma mãe ocupar funções de liderança é preciso normalizar, também dentro de casa, a necessidade do suporte à mulher e seus filhos, da mesma forma que é feito aos homens. Em 2019, ela foi a primeira representante feminina no cargo de procuradora-geral do Estado, após 18 homens passarem pelo posto máximo da instituição.
 
“Ninguém chega a lugar nenhum sozinho. É uma mudança de rotina, com certeza. Dentro de casa você precisa ter apoio e uma estrutura que te permita ocupar um cargo público ou de gestão que consuma muito tempo. Porque os homens têm essa estrutura, então, enquanto mulher, digo que precisamos disseminar que isso é natural para nós também. Quando nós vamos sair para esta disputa, o nosso companheiro e a nossa família tem que nos apoiar. É preciso criar nossos filhos no sentido de que o pai ou a mãe estarão fora de casa em algum momento”, ressaltou a procuradora, que deixou a chefia no início deste ano.
 
Mãe de dois filhos, ela conta que eles já cresceram vendo a mãe estudando e trabalhando. “Se precisarem da minha presença sabem que será à noite ou final de semana. Eu sempre tive um projeto de vida e cargos de liderança, mas para isso preciso de uma rede de sustentação para que eu possa estar ocupando aquela função. Em momentos que meu marido precisou eu fui o suporte dele e ele o meu suporte. A mulher ainda se culpa por não dar conta de tudo sozinha, mas temos que afastar desses estigmas, pois não daremos e tudo bem”, finalizou.


› FONTE: ALEMS