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Inspirada na mãe, Kalí virou professora para ajudar indígenas em Miranda

Publicado em 29/12/2023 Editoria: Educação


Neste ano, Kalí recebeu homenagem pela luta dos direitos humanos. (Foto: Arquivo pessoal)

Neste ano, Kalí recebeu homenagem pela luta dos direitos humanos. (Foto: Arquivo pessoal)

Formada em Pedagogia, ela recebeu prêmio por atuar em prol dos Direitos Humanos em Campo Grande

A vontade de ser professora surgiu através do exemplo da mãe. Kalí Dias, de 46 anos, fez o curso de Pedagogia, mestrado e hoje divide tempo entre a Semed (Secretaria Municipal de Educação) e a sala de aula. Indígena do povo Terena da aldeia Lalima, localizada no município de Miranda, ela trabalha para ajudar outros estudantes indígenas.

Ao falar sobre o interesse na área de educação, Kalí volta para os tempos de criança quando decidiu que iria ser professora quando crescesse. Observando a dedicação que a mãe tinha, ela sentiu vontade de seguir o mesmo caminho.

“Minha mãe era a dita ‘mãe crecheira&39; quando a Educação Infantil ainda era oferecida pela Secretaria de Assistencialismo. Minha mãe não tinha formação pedagógica, ela era do quadro administrativo da prefeitura e, ainda assim, ela tinha um amor enorme e dedicação imensurável às crianças. Eu vendo tudo aquilo, decidi que seria professora quando crescesse”, conta.

Kalí cresceu em Campo Grande onde conclui os estudos no ensino público e seguiu para a graduação na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Durante o curso de Pedagogia, ela participou do programa de iniciação científica e após a graduação engatou o mestrado. Ao todo, ela passou seis anos estudando na UFMS até passar em um concurso e ir trabalhar em uma Emei (Escola Municipal de Educação Infantil).

Já em 2020, ela comenta que foi chamada para atuar em uma pasta da Semed. Ela explica quais são as principais responsabilidades que tem e como o trabalho impacta diretamente na educação de outros jovens.

“Eu trabalho na Pasta da Temática Indígena na Secretaria Municipal de Educação e tudo o que se refere às políticas públicas para os conhecimentos sobre os povos indígenas, atendimento aos estudantes indígenas, produção de material pedagógico específico, banca de cotas indígenas em nossos processos seletivos”, diz.

No período noturno, a profissional dá aulas no Curso Normal Médio Intercultural Indígena Povos do Pantanal na Escola Estadual Hércules Maymone. “Neste curso formamos professores para a Educação Infantil e Ensino Fundamental para as aldeias e todos os envolvidos (estudantes, professores, diretor e coordenador) são pessoas indígenas”, destaca.

Ao mencionar o trabalho e a educação que teve, Kalí relata que muitas pessoas nascidas e criadas em aldeias não têm a mesma chance. “Da minha família paterna sou a única que tem curso superior. A maioria dos meus primos lá da aldeia não têm oportunidade de nada, pois a aldeia fica 50 km da cidade e a estrada é de terra. Às meninas resta casar bem nova ou ir trabalhar em fazendas. Aos meninos resta uma vida de quase escravidão na colheita da maçã ou nos canaviais”, declara.

Exemplo - Neste ano, Kalí foi destaque no processo seletivo da Semed para professor temporário onde conseguiu ficar em primeiro lugar.

A pedagoga fala sobre a conquista e como foi a seletiva. “Esse processo, que é oferecido somente para professores comprovadamente indígenas, possui também prova diferenciada e após a prova escrita passamos por uma entrevista com os conselheiros do CMDDI que é o Conselho Municipal de Defesa e Direitos Indígenas”, esclarece.

Além de ter conseguido passar em primeiro lugar, ela recebeu algumas homenagens importantes neste ano. Uma foi na Câmara dos Vereadores em Campo Grande e outra  foi o prêmio SDHU 2023 oferecido aos campo-grandenses que trabalham em prol da efetivação dos Direitos Humanos.

Inspirada na mãe que tinha amor pela educação e na avó que sempre foi muito batalhadora e acolhedora, Kalí quer ser exemplo para outras pessoas.

“Quero ser exemplo de que indígena tem sim condições de alcançar outros espaços na sociedade que por muito tempo foram negados para nós. Ano que vem começo meu doutorado e quando terminar quero ir para a aldeia dar aula. Sempre falo para meus estudantes que quando voltarem para as aldeias como professores eles têm que emancipar as mentes das crianças indígenas e ensinar para elas que elas podem ser quem elas quiserem”, pontua.

 



› FONTE: Campo Grande News