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'Star Wars: o que acontece com universo da saga após 9º e último filme

Publicado em 18/12/2019 Editoria: Arte e Cultura


STEPHEN KELLY
Quando a Disney comprou, em 2012, a Lucasfilm —e por extensão os direitos da série Star Wars—, muitas pessoas previram que a franquia em torno dos Jedis seguiria os passos do bem-sucedido Universo Cinematográfico da Marvel.
 
Falava-se no lançamento de um filme de "Star Wars" por ano, em uma narrativa associada entre sequências, prequels (obras que se passam cronologicamente antes da trama original) e spin-offs (desdobramentos em torno de um personagem específico, por exemplo).
 
O jornalista Adam Rogers previa, na revista Wired, que "se tudo der certo para a Disney, e você for velho o suficiente para ter presenciado a estreia do primeiro "Star Wars" em 1977, você provavelmente não vai viver para assistir ao último. É uma franquia infinita".
 
Mas as coisas não funcionaram tão bem para a Disney.
 
De um lado, o sucesso da terceira trilogia da saga, graças principalmente a  "Star Wars: Episódio 7 - O Despertar da Força", resgatou o poder da franquia na cultura pop e garantiu à empresa recuperar os US$ 4 bilhões (R$ 16,2 bilhões) gastos com a compra da Lucasfilm.
 
Ao redor do mundo, os episódios 7 e 8 renderam US$ 2 bilhões e US$ 1,3 bilhão respectivamente, e os spin-offs "Rogue One" e "Solo" renderam US$ 1 bilhão e US$ 392 milhões respectivamente.
 
Mas os últimos sete anos foram marcados por turbulência. Diretores se demitiram ou foram demitidos de projetos; refilmagens de última hora mudaram o rumo de obras já na mesa de edição; e o fracasso de bilheteria de "Solo" fez a empresa repensar o que o público quer —e quanto ele quer.
 
Assim, a estreia de "Star Wars: Episódio 9 - A Ascensão de Skywalker" nesta quinta-feira (19) encerra a terceira trilogia e passa a ser um divisor de águas para a era Star Wars na Disney. Se o longa encerra de fato a saga dos Skywalkers, que são a alma da série, e spin-offs não dão o resultado esperado, quais seriam, então, os próximos passos?
 
FRAQUEZA NA ESTRELA DA MORTE
Uma teoria popular para explicar a decepcionante bilheteria de "Solo" e por que Star Wars não teve o mesmo sucesso dos filmes da Marvel fala em fadiga.
 
Segundo essa corrente, a trilogia original de George Lucas é especial demais para ser tratada como uma franquia qualquer e a superexposição arruinou essa magia.
 
"Eu acho que produzimos e lançamos muitos filmes de "Star Wars" em um curto período de tempo... Acho que há algo muito especial com "Star Wars", e menos é mais", afirmou o CEO da Disney, Bob Iger, à Radio 4 da BBC.
 
Essa hipótese é questionada por muitos. Para Matthew Ball, ex-chefe de estratégia da Amazon Studios, a suposta fadiga de "Star Wars" é um mito.
 
"Apesar de toda a decepção em torno de "Solo", eu não acredito que outros quatro filmes consecutivos tenham entregado mais lucro acumulado.   "Star Wars" continua a ser uma franquia amada, com ainda mais alcance global e representatividade. Seus temas são universais e atemporais. Não há nenhuma razão para   "Star Wars" ter apenas um filme e uma série de TV por ano, mas a Marvel possa ter três filmes e continuar a aumentar seu público. Em 2021, a Marvel terá quatro filmes e duas séries por ano. Escassez importa, mas você se torna especial mais pelo que você faz do que pelo que você não faz."
 
Para ele, os problemas enfrentados pela Disney têm menos a ver com a tolerância do público para com   "Star Wars" e mais com o resultado de um planejamento falho. Ou mais especificamente: ciclos de produção apressados, o compromisso de lançar seis filmes em oito anos, contratar e demitir diretores que não pareciam adequados para as funções e a falta de controle criativo centralizado, à la George Lucas.
 
HISTÓRIAS DO FUTURO
Parece que a Disney aceitou críticas como as de Matthew Ball. O CEO da companhia, Bob Iger, anunciou recentemente que a produção cinematográfica de   "Star Wars" entrará em um hiato de três anos após "A Ascensão de Skywalker", com a empresa focando programas da plataforma de streaming Disney +, como "The Mandalorian" e a série "Obi-Wan Kenobi", estrelada por Ewan McGregor (que viveu o personagem na segunda trilogia, iniciada em 1999).
 
Talvez a Disney tenha percebido que os spin-offs de ação real são bem melhor servidos pela menor escala da televisão do que pela grandiosidade do cinema.
 
Quanto à contratação e demissão de diretores, D.B. Weiss e David Benioff, produtores de "Game of Thrones", deixaram recentemente uma trilogia planejada de filmes devido a um acordo que assinaram com a Netflix.
 
No entanto, o diretor de "Os Últimos Jedi", Rian Johnson, ainda está ligado a uma trilogia separada, e o chefe supremo da Marvel, Kevin Feige, também está desenvolvendo um filme.
 
É possível que qualquer um deles se torne o "líder criativo único", o "novo George Lucas" que a Disney aparentemente precisa.
 
A grande questão agora é que tipo de histórias cinematográficas a Disney contará na era pós-Skywalker. Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm — e uma das produtoras de cinema de mais sucesso dos EUA —, disse à revista Rolling Stone, no mês passado, que a decisão é difícil: "[Existem] infinitas possibilidades. É libertador, emocionante e cria muita pressão e ansiedade também". "Mas o que parece provável é que uma nova saga ocorra no futuro ou no passado antigo."
 
Este último tem precedente na forma de série de videogame "Knights of the Old Republic", favorita dos fãs, que se passa 4 mil anos antes da ascensão do Império e segue uma guerra devastadora entre os Jedi e os Sith.
 
O Buzzfeed informou, no início deste ano, que um filme dessa série estava sendo escrito por Laeta Kalogridis, roteirista de "Alita: Anjo de Combate". Segundo relatos, a trilogia de D.B. Weiss e David Benioff, de "Game of Thrones", exploraria as origens dos Jedi.
 
Em termos de uma saga ambientada após "A Ascensão de Skywalker", isso depende muito do que acontece neste novo filme.
 
Uma abordagem óbvia seria "uma nova série de filmes após Rey treinar a próxima geração de Jedi com o bebê Yoda (da série &39;Mandalorian&39;)", diz Jason Ward, editor do site Making Star Wars, fazendo uma referência meio brincalhona ao personagem que se tornou um dos maiores memes do ano — embora isso também passe por uma progressão natural da trama.
 
Mas não é garantido que Daisy Ridley, John Boyega ou Oscar Isaac desejem repetir seus papéis como Rey, Finn e Poe tão cedo; os três descartaram o retorno a "Star Wars" em entrevistas, com apenas Boyega parecendo aberto à ideia de uma reunião no futuro distante.
 
DEIXE O PASSADO MORRER
De todo modo, está claro que o que vier a seguir deve seguir o conselho subversivo — e até certo ponto, inflamável — do personagem Kylo Ren (Adam Driver) em &39;Os Últimos Jedi&39;: "Deixe o passado morrer. Mate-o, se for necessário".
 
"Acho que o futuro de &39;Star Wars&39; será realmente emocionante à medida que nos afastamos dos personagens que o definiram", diz Ward, do site Making Star Wars. "Até certo ponto, parece que a ideia é criar novos personagens aos quais os fãs e o público em geral possam se apegar, e podemos acompanhar suas tramas sem estarmos ligados a uma história de 42 anos."
 
"A Lucasfilm não provou que pode se afastar do material de origem de George Lucas e sustentar uma fantasia no universo sem seus personagens e cenários... Houve sete ou oito planetas de areia (nos filmes) que se parecem com o planeta de areia do primeiro filme. Eles têm medo de sair completamente do familiar, e eu adoraria vê-los fazer isso. "
 
Há razões pragmáticas e duras para ir além do que conhecemos como  "Star Wars". Tal como está, a franquia demonstrou claramente ter apelo multigeracional.
 
"&39;O Despertar da Força&39; e &39;Os Últimos Jedi&39; não poderiam ter alcançado as cifras que tiveram sem desempenho forte em todas as faixas etárias", diz Ball, ex-Amazon Studios.
 
Gerações cresceram com esse forte senso de nostalgia da trilogia original, mas para garantir o futuro da franquia, a Disney deve estabelecer um novo tipo de   "Star Wars" para uma nova geração — e novos mercados.
 
"Embora &39;Star Wars&39; seja a segunda maior franquia de todos os tempos e mundialmente conhecida, ela é mais forte entre as pessoas com mais de 40 anos e tem um apelo relativamente fraco fora dos Estados Unidos", explica Ball.
 
"A China, por exemplo, é agora um quarto da bilheteria global. No entanto, a trilogia original nunca foi lançada nos cinemas chineses. E quando a segunda trilogia foi lançada, a bilheteria chinesa tinha um vigésimo do tamanho. Como resultado, o primeiro título de  &39;Star Wars&39; que realmente chegou ao país foi o sétimo episódio — e nele, a maioria dos personagens principais da franquia era antiga, havia morrido ou morreu."
 
Quem sabe — talvez em 2061, alguém escreva um artigo lamentando que   "Star Wars" precise ir além dos personagens de Rey, Finn e Poe. Talvez um Mark Hamill de 26 anos tenha acabado de fazer um retorno digital à série; talvez uma mulher tenha dirigido um filme de   "Star Wars"; talvez dois personagens abertamente gays tenham trocado olhares em uma cantina lotada. Ou talvez   "Star Wars" esteja morto.
 
Difícil de ver. Sempre em movimento o futuro está.


› FONTE: BBC NEWS BRASIL